quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Semana da Vida, um clamor de esperança


Há mais de 12 anos, exatamente no dia 25 de março de 1995, na Solenidade da Anunciação do Senhor, o Papa João Paulo II, publicava a Carta Encíclica Evangelium Vitae (O Evangelho da Vida), face à crescente “multiplicação e agravamento das ameaças à vida das pessoas e dos povos, sobretudo quando ela é débil e indefesa” (cf. EV, 4).

A Arquidiocese de Campinas, fiel ao mandamento deixado por Jesus de Nazaré, o Cristo, Deus da Vida, vê com perplexidade a cultura de morte se alastrando e a passividade com que a sociedade assiste e aceita a imposição dessa criminosa intenção.

Por isso, reafirma sua posição pelo direito natural à Vida, conclamando a todos para assumirem em Comunhão e Co-responsabilidade a Semana Nacional da Vida, de 1º a 08 de outubro, e o Dia do Nascituro, aprovado pela 43ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil - CNBB, em 2005. Essa Semana da Vida quer ser um Clamor de Esperança no seio da sociedade que caminha contra os valores do Reino e a proliferação de uma mentalidade assassina.

A busca desenfreada por riquezas materiais reforça o individualismo e o hedonismo que nos fazem reféns da nossa própria ambição. Não é possível servir a dois senhores, a Deus e aos ídolos, porque ou odiará a um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro (cf. Mt 6,24).

Queremos chamar à razão os Poderes constituídos do Brasil, nas suas várias instâncias, para que assumam o direito e garantia de vida plena do povo como princípio moral e ético. Não admitimos mais a morte e o descaso para com milhões de seres humanos pela insensibilidade e insensatez de políticos e pessoas corruptas, que desviam milhões e até bilhões que deveriam ser usados na saúde, educação, moradia, trabalho, lazer, enfim, na promoção da dignidade dos pobres e excluídos.

Não tem sentido humano a discussão pela legalização do aborto, tornando-o um crime institucionalizado. Se existe gravidez indesejada é porque não existe uma adequada orientação familiar e uma formação educacional capaz de mostrar aos jovens o verdadeiro valor da vida.

A violência cresce assustadoramente e empurra as pessoas com algum poder aquisitivo a buscar segurança em condomínios fechados, carros blindados, tecnologias... Outras, mais pobres, sobrevivem como podem em meio ao fogo cruzado da violência urbana. E todos precisam lutar e rezar para não serem as próximas vítimas.

O narcotráfico avassala a juventude. Quantos jovens perdendo a vida por nada! Quantas famílias desmoronadas pelo vício! A quem interessa manter o tráfico e a impunidade? Quem verdadeiramente está se beneficiando com isso? Temos claro que os adolescentes e os jovens são as maiores vítimas desse sistema perverso e excludente, fazendo com que se perca o dom maior que Deus lhes deu: a Vida.

Juntem-se a essas tantas outras situações de morte que ameaçam nosso povo. Por isso, nesta Semana da Vida queremos convidar a cada um para reconhecer o dom da vida como o mais precioso que Deus nos deu. Mulheres e homens, criados à imagem e semelhança de Deus, iguais em dignidade, devem assumir o seu papel de construtores de uma sociedade justa, solidária e fraterna.

É na família, célula da sociedade e pequeno santuário da vida, o lugar onde se constrói a civilização do amor. Cabe aos pais e responsáveis oferecer aos filhos uma educação integral, voltada para a cidadania e a dignidade da vida, baseada nos valores cristãos.

Em nome do Deus da Vida, rico em misericórdia, de Jesus Cristo, seu Filho Unigênito que se fez homem para nos salvar, e do Espírito Santo, fonte do Amor, com a proteção da Mãe Imaculada e seu esposo São José, conclamo a todos, especialmente os cristãos católicos da Arquidiocese de Campinas a que se empenhem, incondicionalmente, na promoção da vida em qualquer condição e estado de desenvolvimento, condenando como ofensa grave à dignidade humana qualquer ato ou iniciativa que atentem contra ela.


Dom Bruno Gamberini / Arcebispo de Campinas-SP